Coloquem na mesa de um debate duas pessoas honestas, igualmente inteligentes e com uma certa afinidade em termos de valores e ideais: mesmo assim, há uma grande probabilidade de que elas acabem encontrando algum ponto de discordância sobre o assunto discutido.
Mas qual seria, então, a proposta de um tal confronto? Definir quem está "certo" ou "errado"? Confesso que tenho as minhas dúvidas em relação à eficiência (e utilidade pública) de tantos debates cegos e surdos, onde os participantes competem entre eles por um glorioso prêmio da razão.
Deixa eu contar uma história. A de um morador de rua que eu conheci em Curitiba e que me explicou um dia por que, apesar das dificuldades que ele estava passando, ele não sentia nenhuma vontade de seguir um caminho mais inserido na sociedade. Aquelas pessoas tristes e caretas atravessando a praça... Aquele estresse do trabalho, do carro, dos horários, da família... Ele não queria isso para ele. Preferia se virar de outro jeito. Perguntei meio brincando o que a mãe dele achava disso. Ele respondeu muito sério, ponderando.
"É... minha mãe... ela acha muito errada a minha vida. Mas é que ela tem o "certo" dela. E eu tenho o meu "certo". Cada um tem seu "certo" na vida. É assim...
Suas palavras ecoavam na minha cabeça enquanto, na rua, dezenas de carros parados no trânsito emitiam numa nuvem de fumaça quente. O menino seguiu falando:
"Mas olha... O meu certo... nem é tão errado assim!"
É que o nosso "certo" nunca deixará de ser nosso. Quer dizer, por mais metódicos sejam nossos raciocínios, eles se baseiam apenas na informação que chegou aos nossos ouvidos e nas percepções extremamente pessoais que temos da realidade. É bom lembrar que a nossa leitura de qualquer situação vem sempre filtrada pelas nossas experiências e lembranças, referências culturais, educativas, acadêmicas, relacionais (...) e até pelo nosso estado emocional.
E é por isso mesmo que a troca de ideias com outras pessoas, desde que procure entender as divergências e não combater o pensamento alheio, é tão revolucionária. Sim, revolucionária. Porque os nossos "certos" e "certíssimos" têm sempre alguma coisa de errado, algum elemento faltando que ainda nos cabe descobrir para poder evoluir e crescer.
Essa busca, desconstrução permanente de si mesmo, baseada no respeito pelo outro, é o que nos mantém vivos, enquanto o estado vegetativo da velhice começa justamente com a pretensão de ter visto tudo e com a arrogância de achar que sua experiência já vale todas as outras.
Nesses tempos de intolerância máxima, temos que ter paciência e juventude na alma. Não podemos envelhecer agora...
Sequer começou 2018 ainda!
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